“Eu vivo de acordo com as regras, independente de qual seja ela”; diz Maria, com sua teoria, com o seu sarcasmo egocêntrico, à professora de português logo após um trabalho proposto pela mesma.
No dia sucessor, chega à garotinha com o trabalho em mãos e feito por ela, lendo um texto que dizia assim:
“Por que logo um traço foi o meu tema? Está bem professora, hífen. Mesmo assim para mim, tudo se resume em uma mínima linha que liga palavras e as separa também.
Mesmo de acordo com as regras, eu não as suporto. Onde já se viu o meu mico-ondas separar-se? Extraconjugal, juntar-se? E até o meu humor se muda quando o composto bem-humorado é pronunciado.
Já escrevi pré no oeste e conceito no leste, infraestrutura relevantemente separado. Meu auto-serviço casou-se e o “s” nasce, deu origem ao autosserviço.
Em algumas palavras é recém-nascido, em outras, é veterano. O prefixo faz sempre diferença e... Ufa! Prefixo sem hífen.
Extra-humano, pré-história, super-homem, ultra-arquivo. Minha refeição é interrompida quando comer no gerúndio não cabe no final da linha. Hífen me transmite qual tipo de guarda eu posso citar, se é a bagunça do meu guardaroupa ou a competência do guarda-noturno. Gente é muito traço!
E se eu tiver grávida? Lá me vou parir um “s” para minha ultrasson.
Com hífen ou sem hífen, o português vai mudando, separa aqui, gruda ali, e misturam-se as formas até vim um ser na próxima invenção e ser contra a reforma. Os pequenos nascerão sabendo e os que não sabem saberão com dificuldade. E tudo isso para quê? Uma pseudofacilidade.
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