Estava frio naquele dia, eu vagava sozinho pela cidade, escura, silenciosa. Moro na rua desde os 16 anos de idade, logo depois da morte da mamãe. A nossa casa meu padrasto se apoderou, meu quarto, minha bicicleta, meu feijão. Não consegui mais viver ali. Meu irmão e eu éramos diariamente saco de pancadas de um alcoólatra ignorante e com uma pedra no lugar do coração. Então fugimos, mas na rua ninguém é de ninguém, nem mesmo eu e meu irmão, que mesmo tão ligados, nos separamos alguns meses depois da fuga.
No começo foi muito difícil, eu dormia numa calçada do centro da cidade, no frio, com fome, com sede, sem amor, sozinho. Comecei a pedir dinheiro na rua, entretanto era julgada como ladrão, drogado, intocável. As mães tinham medo quando eu encostava, os filhos automaticamente levantava a mão e meu odor era excluído das suas narinas. Foi quando eu decidi no auge dos 19 anos ir para a capital. Ao chegar a Salvador, de carona em carona, deslumbrei-me com o encanto do local e pensei no Rafael, meu irmão, daria tudo naquele momento para ele estar junto a mim.
Alguns meses de estadia alguns companheiros me o ofereceram drogas, na verdade não sabia ao certo do que se tratava, mas lembro que no dia anterior havia visto na TV de uma dessas lojas do comercio a frase que dizia “Dizia não as drogas” foi aí que eu disse não, mas apanhei como se fosse obrigado a dizer sim.
Nos dias quentes sentia sede e me lembrava da água que eu desperdiçava brincando de jato d’água quando a mamãe ainda estava por perto, nos dias frios me recordava das noites em que ela me cobria. Nos dias de fome me lembrava que aquela comida que eu joguei fora me saciaria. Não tinha presente de natal e nem de aniversário, catava latinhas no carnaval e no são João e minha vida resumia-se numa miséria e infelicidade. Foi quando eu resolvi mudar, me matriculei numa escola pública de Salvador para concluir o ensino médio, lá tinha poucos amigos e apenas dois sabiam que eu morava na rua. Comecei a lavar carros, catar papelão nos horários opostos as aulas. Três anos depois me formei, fui procurar emprego e achei, iniciei meu primeiro trabalho digno e vagarosamente fui saindo das ruas, aluguei um quartinho numa pensão barata perto do meu trabalho, eu era entregador em um restaurante na lapinha.
Um dia ao chegar em casa eu na minha solidão e nos meus pensamentos criei coragem e, alguns meses depois estava numa sala ar condicionada cheia de mauricinhos em busca de uma profissão. Com algumas aulas extras cedida por ex-professores, consegui o impossível, passei em medicina e hoje trabalho numa das maiores redes de hospitais de Nova York. Fiz a primeira cirurgia cardíaca anestésica e salvei uma vida que outros médicos deixariam morrer. Mundialmente reconhecido, reencontrei o Rafa e, quando os nossos olhos, 22 anos após se encontraram, tive a sensação de que eu fui filho da vida e, emoção nenhuma igualaria-se aquela.
Quando voltei a Salvador para alguns eventos, fui a um restaurante em Itapoã e vi um menino na porta que me perguntou: “Tio você tem um trocado?” e eu olhei nos seu olhos e respondi: “Não meu filho, eu tenho sonhos”.
No começo foi muito difícil, eu dormia numa calçada do centro da cidade, no frio, com fome, com sede, sem amor, sozinho. Comecei a pedir dinheiro na rua, entretanto era julgada como ladrão, drogado, intocável. As mães tinham medo quando eu encostava, os filhos automaticamente levantava a mão e meu odor era excluído das suas narinas. Foi quando eu decidi no auge dos 19 anos ir para a capital. Ao chegar a Salvador, de carona em carona, deslumbrei-me com o encanto do local e pensei no Rafael, meu irmão, daria tudo naquele momento para ele estar junto a mim.
Alguns meses de estadia alguns companheiros me o ofereceram drogas, na verdade não sabia ao certo do que se tratava, mas lembro que no dia anterior havia visto na TV de uma dessas lojas do comercio a frase que dizia “Dizia não as drogas” foi aí que eu disse não, mas apanhei como se fosse obrigado a dizer sim.
Nos dias quentes sentia sede e me lembrava da água que eu desperdiçava brincando de jato d’água quando a mamãe ainda estava por perto, nos dias frios me recordava das noites em que ela me cobria. Nos dias de fome me lembrava que aquela comida que eu joguei fora me saciaria. Não tinha presente de natal e nem de aniversário, catava latinhas no carnaval e no são João e minha vida resumia-se numa miséria e infelicidade. Foi quando eu resolvi mudar, me matriculei numa escola pública de Salvador para concluir o ensino médio, lá tinha poucos amigos e apenas dois sabiam que eu morava na rua. Comecei a lavar carros, catar papelão nos horários opostos as aulas. Três anos depois me formei, fui procurar emprego e achei, iniciei meu primeiro trabalho digno e vagarosamente fui saindo das ruas, aluguei um quartinho numa pensão barata perto do meu trabalho, eu era entregador em um restaurante na lapinha.
Um dia ao chegar em casa eu na minha solidão e nos meus pensamentos criei coragem e, alguns meses depois estava numa sala ar condicionada cheia de mauricinhos em busca de uma profissão. Com algumas aulas extras cedida por ex-professores, consegui o impossível, passei em medicina e hoje trabalho numa das maiores redes de hospitais de Nova York. Fiz a primeira cirurgia cardíaca anestésica e salvei uma vida que outros médicos deixariam morrer. Mundialmente reconhecido, reencontrei o Rafa e, quando os nossos olhos, 22 anos após se encontraram, tive a sensação de que eu fui filho da vida e, emoção nenhuma igualaria-se aquela.
Quando voltei a Salvador para alguns eventos, fui a um restaurante em Itapoã e vi um menino na porta que me perguntou: “Tio você tem um trocado?” e eu olhei nos seu olhos e respondi: “Não meu filho, eu tenho sonhos”.
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